Talmidei HaMashiach – Discípulos do Messias

תלמידי המשיח

Talmidei HaMashiach

Discípulos do Messias

 

 

Todos os discípulos são servos do Messias, portanto, resgatados, comprados por bom preço. Yeshua/Jesus é nosso Senhor, ou seja, nosso dono e proprietário, pertencemos a quem nos conquistou.

Ser “Servos do Messias” é muito mais do que um título bonito, pois em última análise diz respeito a paixão – morte. Morremos para nós mesmos para vivermos para o nosso Goel/Redentor (Gl.2:20).

 

Discipulado

Discipulado é o processo de compartilhamento de tudo o que temos recebido do Messias com outros irmãos, que desejam copiosamente um estado de maturidade, de comunhão íntima com Deus e de serviço eficiente na sua comunidade; é ainda, uma caminhada de discípulos maduros junto aos discípulos neófitos, com o sublime propósitos de levá-los ao crescimento do conhecimento e da prática da fé (Cl.1:28-29).

David Stern coloca nos seguintes termos a relação do discípulo e de seu mestre: “o relacionamento entre o talmid (discípulo, aluno) e o rabino (discipulador, mestre) era muito próximo; o talmid não aprendia com o rabino apenas fatos, processos de raciocínio e como realizar práticas religiosas; deveria considerá-lo exemplo a ser imitado na conduta e no caráter (v. Mt.10:14,15; Lc.6:40; Jo.13:13-15; 1Co.11:1). O rabino, por sua vez, era considerado responsável pelos talmidim-discípulos (Mt.12:2; Lc.19:39; Jo.17:12; Mt.5) (STERN, 2010, p.1588).

 

Contexto Bíblico Judaico do Discípulo

O apóstolo João estava inserido em um contexto bíblico judaico do discipulado. Para tanto, faz-se necessário compreendermos os dois vocábulos hebraicos para o termo “discípulo” usado no Tanakh (AT):

 

  1. Limud (aquele que é ensinado) derivado do verbo Lamad – aprender; ensinar. Esse vocábulo traz a ideia de treinar, bem como de educar. Isaías usou o termo “discípulos” para se referir àqueles que eram ensinados ou instruídos. Isaías 8:16 “Liga o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos”.

 

  1. Talmid (estudante, discípulo). Só uma passagem do AT emprega esta palavra. 1 Crônicas 25:8 “E deitaram sortes acerca da guarda igualmente, assim o pequeno como o grande, o mestre juntamente com o discípulo”. Na época do apóstolo João, o mestre da Lei era chamado rabino talmid, e seus alunos eram conhecidos como talmidim, isto é, aprendizes. Entretanto, num outro sentido, todo o Israel era constituído de talmidim, aprendizes da Torá (lei, instrução) de Deus. O nome do Talmud Judaico provém desta raiz (HARRIS, ARCHER, WALTKE, 1998, p.790-791). Encontramos assim o contexto de discipulado de João, o apóstolo do Messias.

 

Rabbi e Talmid

 

Rabbi, em hebraico significa literalmente “meu grande”, comumente traduzido por meu mestre, ou simplesmente mestre. Do grego ‘epistatês “supervisor, superintendente, inspetor, líder, chefe”, ou como em Lucas 5:5 “Mestre”; didaskalos, “professor”. O Rabbi é um mestre dos valores e costumes dos judeus; e como tal, tinha autoridade para julgar ou arbitrar e decidir pontos da lei e ética na vida das pessoas (Lucas 12:13-14; Êxodo 2:14). A essência do relacionamento (discipulador-discípulo) era a confiança em cada área da vida, e seu objetivo era fazer o talmid como seu mestre em conhecimento, sabedoria e comportamento ético (STERN, 2008, p.48). O resultado era  uma relação pessoal e íntima entre mestre e discípulo para uma sólida e profunda transmissão do conhecimento, de forma teórica e prática. O rabbi deveria ter a disciplina do professor, o amor do pai e o exemplo do mestre. Enquanto do talmid era esperado dedicação total ao aprendizado,  além é claro de seguir o seu mestre.

 

A Escolha do Discípulo

Na época do Senhor Jesus e seus apóstolos havia várias escolas rabínicas de formação de discípulos, como temos vários seminários teológicos hoje e as Yeshivot (“Seminários Judaicos” de estudos da Torá e do Talmud), porém duas se destacavam entre todas, as escolas dos Rabinos Hillel e Shammai.

A escola do Rabino Hillel se destacava por sua interpretação mais dinâmica e contextualizada da Torá. Uma linha mais popular e liberal de interpretação da Lei. Já a escola do Rabino Shammai era mais rigorosa na observância da Lei de Deus para Israel, mais literalista por assim dizer.

 

A Escola de Yeshua/Jesus

Geralmente há nos meios acadêmicos judaicos messiânicos e cristãos gentios uma discussão sobre qual escola o Senhor Yeshua/Jesus teria frequentado, a de Hillel, como Paulo o apóstolo (segundo alguns), ou a de Shammai.

Acredito que o Senhor Yeshua/Jesus não frequentou nem uma nem outra, embora haja algumas similaridades de seu ensino em algum aspecto com ambas as escolas existentes.

Jesus não frequentou a escola de Hillel ou a de Shammai pelo forte argumento de que ele seguiu a linha, ou “escola” dos profetas de Israel, tendo assim, total isenção da especulação humana agindo diretamente na revelação divina, como era o caso dos profetas do Senhor.

Nisto se dá a diferença da escolha dos discípulos. Na época do Senhor Yeshua/Jesus os discípulos é quem escolhiam seus mestres e suas escolas rabínicas.  No caso dos discípulos de Yeshua/Jesus, eles foram escolhidos um a um pelo próprio Mestre, após uma vigília de oração, provavelmente para esse fim (Mateus 4).

Como exemplo disso no Tanakh (AT) vemos o caso do profeta Elias com Eliseu (1 Reis 19:16,19-21).

 

Ser Discípulo

Discípulo era a palavra favorita do Messias para àqueles cuja vida estava intimamente ligada à dele. É encontrada 261 vezes nos Evangelhos e em Atos, e significa: pessoa “ensinada” ou “treinada”. O discípulo é: “um aluno, aprendiz ou seguidor”.

 

            Há uma definição para discípulo do Messias baseada no evangelho de João:

 

  1. Discípulo é alguém que está envolvido com a palavra de Deus de maneira contínua, João 8:31 “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos”.

 

 

  1. Discípulo é o que ama os outros, João 13:34-35 “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. (13:35) Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.

 

  1. Discípulo é alguém que permanece diariamente em união frutífera com seu Mestre, João 15:5-8 “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos”.

 

À semelhança de um recém-nascido, o novo discípulo é chamado por João de “filhinhos” com suas necessidades básicas (1Jo.2:1,12,18,28; 3:7,18; 4:4; 5:21). Vejamos quatro delas: amor, alimentação, proteção e ensino.

O apóstolo João exemplificou essas necessidades em sua vida e seus escritos dirigidos pelo Espírito Santo aos seus filhinhos na fé.

Ser discípulo do Messias implica em:

 

Amar

Há na primeira epístola de João três porções sobre o amor:

  1. a) amor versus ódio (1Jo.2:7-11);
  2. b) amor fraternal (1Jo.3:10-18) e,
  3. c) amor divino (1Jo.4:7-21).

 

Cabe destacar o imperativo de mutualidade sobre amar em 1 João:

  1. 1 João 3:11 -) “que nos amemos uns aos outros”.
  2. 1 João 4:7 -) “amemo-nos uns aos outros”.
  3. 1 João 4:11 -) “devemos amar uns aos outros”.

 

Alimentar

Alimentar através da Palavra de Deus (1 João 2:3-7) e o guardar seus mandamentos (v.5). O contato diário com a Palavra de Deus vai levar o discípulo do Messias a andar em seus passos (v.6). Por isso, o abecedário do discípulo começa com “o-be-de-cer”.

 

Proteger

  1. Proteção contra os apóstatas (1 João 2:18-19).
  2. Proteção contra os falsos profetas (1 João 4:1-6).

 

Pregar e EnsinarKerigma e Didakê

Pode-se dizer que no tempo dos apóstolos, havia duas formas de proclamação do Evangelho conhecidos pelos seguintes vocábulos gregos: kerigma e didakê. O kerigma era a pregação evangelística da mensagem de salvação, visando os de fora da comunidade do Messias (Mc.12:41; 1Co.2:4;15:14). O didakê era o ensino e a instrução para os neófitos (Mc.4:2; 12:38; Jo.7:16-17), visando a maturidade doutrinária dos discípulos.

A pregação e o discipulado além de estar unicamente baseada nas Sagradas Escrituras, devem andar de mãos dadas para que sejamos verdadeiros discípulos do Messias.

Segue de forma prática o propósito do discípulo do Messias, por meio da fala do pastor John MacArthur Jr. em seu livro: Nossa Suficiência em Cristo (Cap.7 Hedonismo Religioso), sobre o testemunho de um judeu que ouviu a pregação da Palavra de Deus em uma igreja evangélica. O qual relato aqui, com minhas palavras: “o pastor conta que um homem o procurou em seu escritório dizendo que precisava de ajuda. Havia frequentado um culto em que o pastor MacArthur pregou sobre ser “Entregue a Satanás” e que se existia alguém entregue a Satanás esse alguém era ele. Compartilhou com o pastor que tinha abandonado a esposa e que estava com uma amante, mas que não gostava dela e sim da sua esposa, que era médico e que em sua clínica praticava abortos, que se sentia culpado e precisava de ajuda, mas, para piorar ele era judeu, e portanto, não acreditava em Jesus. O pastor John MacArthur pegou a Bíblia Sagrada e deu ao médico judeu e disse que ali havia um livro chamado evangelho de João e que depois que ele lesse e descobrisse quem era Jesus era para ele voltar. O médico saiu com a Bíblia e uma semana depois voltou a se encontrar com o pastor e disse que havia descoberto quem era Jesus – o Filho de Deus. Como ele havia descoberto isso, perguntou o pastor. O médico respondeu que ninguém pode falar ou fazer o que ele fez se não for Deus (essa é a conclusão do livro de João 20:30-31), e falou ainda que  continuou lendo, e que descobriu que era um pecador através do livro de Romanos. O homem reconheceu Yeshua/Jesus como o Messias prometido a Israel e seu Goel/Redentor pessoal, fechou a clínica de aborto, deixou a amante e voltou para sua esposa.

Que sejamos discípulos do Messias Yeshua/Jesus!


Por Alexandre B. Dutra
Pastor, Bacharel em Teologia, Mestre em Letras - Estudos Judaicos (USP),
Diretor dos Amigos de Sião e Professor [convidado] do Instituto Tsadik BaEmunah
03/03/2021